
“Não me pareceu que ela não batesse bem da cabeça. Achei que ela só estivesse se deixando levar pela imaginação, como acontece às vezes com as senhoras idosas.”
Essa é a reação de Luke Fitzwilliam, policial aposentado, contando ao amigo sobre a estranha confidência feita por uma velhinha tagarela e simpática, quando ele vinha em seu trem para Londres. A srta. Pinkerton revela que está a caminho da Scotland Yard para denunciar um série de assassinatos. Quando ele descobre que a senhora morreu de forma suspeita, ele decide ir ao vilarejo onde ela morava e investiga o caso.
Uma das coisas mais interessantes de “É fácil matar” é que os supostos crimes relatados pela velhinha já aconteceram e Luke precisa colher as informações de modo implícito, não podendo declarar abertamente sua verdadeira motivação para estar em Wychwood, o vilarejo onde se desenvolve a trama. Esse contexto dá à trama aquela sensação de leitura gostosa e envolvente, típica do subgênero escrito por Agatha Christie. É importante ressaltar que, embora seja uma história com mortes em série, não se trata de um livro com suspense e ação contínua. Paradoxalmente, é um dos grandes méritos da narrativa.
“Eu sempre senti que um dos fatos mais intragáveis que temos de encarar na vida é o fato de que toda morte significa um ganho para alguém… e não me refiro apenas ao ganho financeiro.”
Com a lista de supostas vítimas concorrendo em quantidade com a lista de possíveis suspeitos, é bom ler sem pressa e anotar na mente as relações entre os moradores do vilarejo. Pouco após Luke ser apresentado ao leitor, ele consulta a seção do jornal sobre corrida de cavalos, momentos antes de conhecer a srta. Pinkerton. Qualquer analogia de Agatha Christie entre apostas no derby com um desafio ao leitor a desvendar as mortes seria mera coincidência?
Depois de reler essa obra, ela se tornou (mais) uma de minhas favoritas da autora. Fique com o alerta da srta. Pinkerton e tenha uma boa leitura.
“É muito fácil matar… contando que ninguém suspeite de você.“
